sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Em defesa do imaginário




O imaginário faz parte de todo RPG, é o eixo principal para que este possa existir e acontecer. Não o fantasiar, mas o imaginar estar longe de si, vestido de Outro (com “o” maiúsculo, o não-eu) que não deixa de ser o “eu”, mas permite-se ser além de si. Confuso? Só para quem nunca pegou uma ficha de personagem vazia e começou a fazer cálculos, preencher bolinhas, ou simplesmente fechou os olhos numa cadeira de balanço e se permitiu divagar nos mares da imaginação (parafraseando o jogo, imagem e ação). Aliás, quando nos sentamos diante do branco criativo de uma ficha, planilha, diário, etc, em que pensamos? Geralmente em otimizar aquela criação utilizando todos os recursos disponíveis para fazer daquele monte de dados algo que possa ser útil não é? Infelizmente a maioria pensa assim, e para minha alegria alguns ainda preferem pensar e refletir numa história e depois fazer com que os dados pontuem as linhas navegadas...

Sou narrador e jogador. Já joguei e narrei quase tudo, e sempre o que me chama mais atenção são os sistemas mais dramáticos, onde a interpretação chama, não para um exercício dramático quase teatral, mas para uma saída de mim mesmo, para o enfrentamento das barreiras de minha percepção, onde a ficha ou roteiro torna-se membrana, onde me visto do personagem, sua epiderme, e torno-me um Outro que faz de certa forma, parte de mim. Não consigo simplesmente sentar e jogar dados sem ter o envolvimento com o que estou interpretando – talvez uma limitação minha, mas sinceramente, não vejo graça! – nada contra quem vê e gosta.

Hoje percebo que são raros os que apreciam esta forma de envolvimento, não entre jogadores e jogo, mas entre o “eu” e o imaginário. Entre o si mesmo e o “não em si mesmo”. Talvez pela falta de tempo, talvez pela falta de compromisso, ou ainda pela falta de criatividade de quem cria a história (narrar exige co-narrar, todo narrador necessita no fundo de co-narradores e não de jogadores), então meio que o JOGO em si sai marcado e expresso sem caracteres individuais, com muitas caricaturas e quase que desproporcional, onde muitos se percebem perdidos dentro da MESA, sem noção alguma do próprio personagem que interpreta ou da história que se narra, aparecendo então potenciais individualistas que antes eram singulares e promissores e que passam a ser egóicos e sem noção, acabando com a diversão, ou seja, com o coletivo.

Jogar por jogar, é divertido, é adentrar numa parte deliciosa de nós, o supracitado imaginário, mas jogar com noção, com embasamento, com maestria no manejo e no tato, percebendo que a nossa diversão também implica na diversão do Outro, que nossas limitações também implicam nas limitações do Outro, e que no fundo, o RPG é uma atividade que nasce dentro do imaginário, e é pelo imaginário que ele flui e não pelo simples rolar de dados ou teste de características ou diminuição de números. Ações são feitos, são acontecimentos, são instantes fotografados pelas lentes de nossa criatividade plasmada numa realidade que não é a nossa, e que não deve ser a nossa, afinal, quando acaba a sessão, o imaginário se fecha e nós atracamos de volta ao mundo real... Ou não?

.:WilNorte...

Um comentário:

  1. wooow
    Adorei o post, eu penso assim mesmo.
    Normalmente faço persongens que tem algo em comum comigo, para que eu não fique muito perdida.
    ^^
    Gosto do imaginário presente no rpg. é a parte que eu mais gosto, o drama, a narração! :D
    Adoro isso... E quando eu lembro das mesas, eu não lembro de todos nós sentado rolando dados.... Eu lembro dos personagens investigando, lutando, e buscando . shuashuash
    ^^

    Alguém mais lembra das mesas dessa forma?

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